Com um bracelete em formato de um pinheiro, o paulistano Criolo encerrou na madrugada de ontem o festival Rec-Beat, no Carnaval do Recife, em apresentação para cerca de 20 mil pessoas, que lotaram o Cais da Alfândega e cantaram os hits de “Nó na Orelha”, um dos melhores discos de 2011.
O adereço, recortado em cartolina verde, foi o protesto visual do rapper contra a ação de reintegração de posse em Pinheirinho, em São José dos Campos (SP). O terreno, ocupado há oito anos por 1.600 famílias, pertence à massa falida do grupo Selecta, do empresário Naji Nahas, que chegou a ser preso em 2008 na operação Satiagraha, da Polícia Federal.
A apresentação era uma das mais aguardadas do Carnaval Multicultural do Recife. Criolo, que foi objeto de extensa reportagem publicada na segunda de Carnaval no diário britânico “The Guardian”, nunca havia cantado para tanta gente. Com camiseta do Devotos, banda punk do bairro de Alto José do Pinho, no Recife, Criolo fez mais de uma hora de show. Mostrou sua poesia original do cotidiano com “Subirusdoistiozin”, pegou o público pelo umbigo com “Mariô” e “Bogotá” e ganhou aura de pastor com o reggae “Samba Sambei”. O hino “Não Existe Amor em SP” completou a lista.
Incomodado com o “cercadinho” que o separava da plateia, desceu no fosso do palco, ao lado do companheiro de rima DJ Dan Dan, para cantar “Cerol” mais próximo de um público já em êxtase. “Quando perguntam qual é a minha, respondo que faço música pra juventude inteligente. Aliás, os autores de músicas subestimam a juventude. A juventude não é burra, o povo não é burro.”
Cantou ainda sua versão para “Cálice”, composição do “amigo Chico” Buarque e de Gilberto Gil, cujo trecho que fala de “preconceito contra nordestinos” causou comoção. “Minha poesia não tem fronteiras”, disse.
Fonte: www.folha.uol.com.br