No ritmo da batucada do Grupo Folclórico Samba de Pareia, do Povoado Mussuca, foi aberto no último sábado, dia 16, no campus da Universidade Federal de Sergipe (UFS), o 2º Encontro de Gastronomia Saberes e Sabores, Edição Laranjeiras. O evento é uma parceria do Senac Sergipe com a Prefeitura de Laranjeiras e apoio da UFS, com o objetivo de debater a influência africana e portuguesa na culinária laranjeirense.
A realização do evento nasceu da iniciativa da administração municipal, através da Secretaria de Cultura e Turismo, que acompanhou a 1ª Edição em Aracaju, e procurou o Senac para levar o encontro para Laranjeiras.
“Queremos agradecer ao Senac por essa iniciativa e por aceitar realizar esta edição aqui em Laranjeiras. Este encontro engrandece a culinária local, que tem uma forte influência africana. Debater a gastronomia, ouvindo quem vivencia ela no dia a dia, é enriquecedor. E que podemos levar para o âmbito do turismo, que é o nosso principal foco, enquanto gestão do Turismo e da Cultura em Laranjeiras. Sergipe está passando por uma transformação, com o apoio de entidades como o Senac e todo o Sistema Fecomércio, com ações que reforçam os atrativos turísticos do Estado, a exemplo da riqueza culinária, histórica e cultural”, enfatizou o secretário de Cultura e Turismo, Plácido Lyra.
A história quilombola no município, turismo e gastronomia, culinária e ancestralidade dentre outros temas foram abordados durante todo o dia. O Saberes e Sabores é uma realização do Senac Sergipe que busca explorar a identidade cultural de cada município, por meio da culinária, e assim, valorizar o turismo gastronômico.
“O Senac entende que a transformação da sociedade passa pela educação, por capacitar as pessoas para o trabalho. Aqui em Laranjeiras, estamos fortalecendo as ações ligadas ao turismo, com a oferta de cursos, em parceria com a prefeitura local e em breve, a cidade ganhará um Restaurante Escola do Senac, onde, além de qualificar alunos locais e da região, será mais um atrativo de Laranjeiras, uma cidade rica em cultura e história”, enfatizou o diretor Regional Adjunto do Senac Sergipe, Manuel Leal.
Culinária ancestral
Os debates foram mediados pela coordenadora técnica dos cursos de gastronomia do Senac-SE, Marta Moreira Aguiar, uma verdadeira imersão na culinária dos ancestrais, preservada através das gerações.
“A proposta foi falar sobre cultura, turismo, gastronomia, o que Laranjeiras tem para oferecer, quais a influências teve. O Saberes e Sabores foi pensado e estruturado para discutir esses aspectos, nas rodas de conversas. Em Laranjeiras em específico, envolvendo representantes dos terreiros, explorando o significado do preparo da comida nessas casas. Esse traço da cultura laranjeirense é tão marcante que contamos inclusive com o apoio do Cimento Nacional, que quis estar envolvido no evento”.
A diretora de Projetos de Igualdade Racial do município, Emmerly Leite, abriu os debates, falando sobre “História Quilombola em Laranjeiras”, finalizando com uma proposta de ampliar ainda mais a parceria com o Senac-SE.
“Foi um encontro gratificante, que teve uma adesão muito boa, contando com pessoas que vieram de Aracaju e de outras localidades para conhecer um pouco mais sobre a cultura do nosso município. Esperamos que esse seja apenas o primeiro de muitos eventos que realizaremos em parceria com o Senac, que não fique apenas no Saberes e Sabores, mas possamos pensar outros eventos ou então fazer um encontro que envolva outras vertentes como artesanato, música, dança e teatro”.
“O turismo gastronômico se desenvolve mais com a promoção de eventos. E esse encontro é uma ideia perfeita para fomentar esse tipo de turismo. O evento conseguiu mobilizar um grupo de pessoas para vir até Laranjeiras para consumir e conhecer. A possibilidade de desenvolver o turismo gastronômico está basicamente ligado à realização de eventos, como por exemplo aqui em Laranjeiras, com a gastronomia afrodescendente. A cultura culinária desse município, que evoluiu às margens do rio Cotinguiba, é muito rica e pode ser um grande atrativo para os turistas”, enfatizou o turismólogo e guia de turismo e instrutor do Senac, Paulo César de Oliveira.
“Culinária e Ancestralidade” foi o tema abordado pela responsável pela Yépada Gastronomia, Irailde Santos, que falou sobre como surgiu o grupo e o trabalho que faz, preservando a cultura dos seus antepassados. Ao final, ela convidou a todos para degustarem acarajé.
Banquete de chão e comida de santo
O Encontro de Gastronomia Saberes e Sabores Senac Sergipe – Edição Laranjeiras, foi retomado no período da tarde, com a palestra da advogada Edilma Chagas, representante do Terreiro Filhos de Obá, sobre o “Banquete de chão como proposta turística”.
“O Filhos de Obá, foi o primeiro terreiro do Estado de Sergipe e hoje ele é tombado e reconhecido como um monumento histórico de valor antropológica para o estado de Sergipe, graças a história dos nossos antepassados. Lutamos contra o racismo, e preservamos a nossa ancestralidade”.
A doutora em educação e cultura, Sara Rogéria, participou do Encontro de Gastronomia Saberes e Sabores Senac Sergipe – Edição Laranjeiras e destacou a discriminação que existe em relação à comida de terreiro.
“Comemos feijoada ou acarajé em locais comerciais, mas se for feita dentro de um terreiro, há discriminação, é uma comida demonizada. Mas, e se o dono do restaurante ou bar, ou quem trabalha na cozinha, for de uma religião que não segue a bíblia, o cristianismo?”, pontuou, convidando a todos para fazer essa reflexão. “A nossa cultura é carregada de racismo”.
“Para fazer a comida de santo, dos Orixás, é preciso estar preparado. A cozinha no terreiro é sagrada, exige concentração, estar com o corpo limpo. Para elaborar o banquete, dormimos no terreiro, para estarmos prontos para preparar a comida que será ofertada ao Orixá, pois ali vai todo o amor e dedicação dos filhos”, destacou Babalorixá Jorge Duarte, do Ilê Oxé Ofó Oluá Ibô.
Uma tarde de grande aprendizado e conhecimento. Essa foi a avaliação da gerente do Núcleo de Desenvolvimento e Implementação Educacional (NDIE) do Senac-SE, Cristiane Tavares.
“Este ano estamos completando 20 anos da aprovação da lei que tornou obrigatório o ensino da história e da cultura afro-brasileira nas escolas. De lá para cá, tivemos grandes conquistas. Não é o ideal, mas avançamos. E este evento foi cheio de significado, de muito aprendizado, realizado numa casa de diversidade, de promoção da cultura e da educação. Muito gratificante estarmos aqui”.
Arte popular
Artesãos independentes agregaram beleza ao 2º Encontro de Gastronomia Saberes e Sabores, Edição Laranjeiras, com a exposição de trabalhos manuais de renda irlandesa, crochês, madeira, ponto de cruz, dentre tantos outros artesanatos que ganham forma pelas suas mãos habilidosas.
Reprodução: Portal Imprensa1
Por: Amália Roeder (
Ascom /Senac|SE