O trigésimo oitavo ano da ocorrência da “Operação Cajueiro”, deflagrada em Sergipe pelos órgãos de segurança da ditadura civil-militar, que prendeu e torturou vários militantes políticos que lutavam por redemocratização e contra o regime de exceção instalado com o golpe de 31 de março de 1964, foi lembrando pelo vereador Iran Barbosa, do PT, nessa quinta-feira, 20/2, dia exato em que a operação ocorreu, há 38 anos.
Como líder da oposição, da Tribuna da Câmara Municipal de Aracaju (CMA), o petista lembrou da data, destacando e-mail que recebeu de um dos militantes presos na nefasta e violenta operação de repressão, o ex-funcionário da Petrobras e então militante do PCB, Milton Coelho de Carvalho, no qual ele relata os detalhes da ação deflagrada por forças do Exército e da Polícia Militar, que perseguiram, sequestraram e prenderam vários militantes políticos.
O atual governador do Estado, Jackson Barreto de Lima, então deputado estadual, segundo Milton, não foi preso, mas esteve entre aqueles que prestaram depoimento e foram indiciados no Inquérito Policial Militar (IPM) instaurado na ocasião. Os demais seguiram para o 28º Batalhão de Caçadores, onde ficaram detidos e muitos sofreram torturas.
“É uma triste memória para nós sergipanos, mas não poderia deixar de registrá-la”, ressaltou Iran. “É importante lembrarmos como procederam os agentes da ditatura naquele 20 de fevereiro de 1976”, disse, passando a ler a história detalhada no e-mail enviado por Milton Coelho da Operação Cajueiro.
Tratamento de impacto
Segundo relato do o ex-petroleiro, “quando levados pelos sequestradores e entregues aos responsáveis pela fase que antecedeu à formalização do IPM, os presos políticos, que na maioria já tinham uma borracha circulando os olhos, receberam “tratamento de impacto”, começando pela troca da roupa que vestiam por um macacão com um número no peito, colocação de um capuz e, aqueles que eram considerados mais comprometidos na organização da resistência à ditadura militar, receberam o que era chamado de “tratamento especial”, incluindo torturas com a cabeça emergida em depósito com água; pontapés nas costelas, em ambos os lados; choques elétricos em várias partes do corpo; além de ameaças de “suicídio” forjado e terríveis pressões psicológicas”.
Milton Coelho foi um dos presos que mais sofreram nos porões do 28º BC. Torturado por mais de 20 horas desde que chegou ao complexo, acabou perdendo a visão.
“Quero aqui, ao deixar este e-mail para o registro nos anais desta Casa, fazer a minha homenagem às vitimas da Operação Cajueiro, aos que ainda estão vivos e àqueles que já se foram. Precisamos nos lembrar do que foi este episódio para que ele não volte a acontecer em nosso estado e em nosso país”, destacou o petista, nominando, um a um, os que foram presos naquela operação, entre os quais, além de Milton e Jackson Barreto, os ex-vereadores por Aracaju Marcélio Bomfim Rocha e Antônio José de Góis (Goisinho), Rosalvo Alexandre Lima Filho, Delmo Naziazeno, Luiz Mário Santos Silva, Jackson de Sá Figueiredo, Gervásio Santos e Valter Santos, Durval José de Santana, Wellington Dantas Mangueira Marques, Carlos Alberto Menezes, Elias Pinho de Oliveira e outros, em sua maioria, militantes do PCB e MDB.
“Quero aqui agradecer a Milton Coelho pelas informações que me passou. E não poderia, como historiador, professor, líder da oposição nesta Casa parlamentar e militante das causas dos direitos humanos, deixar de, no dia de hoje, registrar essa triste lembrança da Operação Cajueiro. Que o Brasil e Sergipe nunca mais vivam tempos iguais”, finalizou o vereador Iran Barbosa.
Por George W. Silva, da assessoria do parlamentar