A escritora, roteirista, cineasta, jornalista, médica psiquiatra, curadora e editora do jornal “O Capital”, Ilma Fontes, recebeu das mãos da deputada estadual Ana Lúcia a homenagem da Assembleia Legislativa de Sergipe pelos 50 anos de dedicação ao jornalismo. Realizada na tarde desta segunda-feira, 27, a solenidade reuniu autoridades dos três poderes, jornalistas, literatas, artistas e militantes culturais que prestigiaram a justa homenagem.
Ana Lúcia emocionou a todos com seu discurso cheio de poesia e despido de formalidade, tal qual a homenageada da tarde. “Um enredo de vida marcado pela coerência e pelo compromisso com a ‘resistência ao ordinário’. Egrégia é a resistência. Eminente é a renitência. Ilma é ilustríssima. Dos dias de Mário Jorge, Joubert Moraes e Cacique Chá à garupa da motocicleta do jovem pintor Tintiliano. Da Praça Tobias Barreto, da casa de seu Aderbal e dona Jenny ao Rio de Janeiro e ao firmamento”, apontou.
“Ainda que a tempestade desabasse, pesadíssima, sobre o país e os sobre cajueiros da província del Rey, uns e outros muito poucos seguraram a barra enquanto perdurou a longa e vexaminosa borrasca da ignorância dos coturnos do 28 BC”, declarou Ana Lúcia em referência à resistência de Ilma durante o período da ditadura militar.
“Deputada Ana Lúcia, a senhora me faz muito feliz nesta tarde, mas ao mesmo tempo dispara uma adrenalina, que há muito tempo não vivenciava”, agradeceu a homenagem e o discurso da deputada. “O ato de escrever é um ato solitário. Falar é outra praia. E falar para um público tão excelso, é me considerar uma felizarda. Eis aqui uma pessoa vitoriosa, porque nunca nada foi fácil para mim, mas tudo valeu a pena”, destacou emocionada a homenageada.
Ícone da cultura sergipana, Ilma Fontes marcou e permanece marcando a história de Sergipe. “Nunca saí do jornalismo”, contou, ao falar sobre sua saída de Aracaju para estudar medicina no Rio de Janeiro, onde trabalhou como psiquiatra na Clínica Visconti Silva. Largou a psiquiatria para dissecar a cultura e retornou a Aracaju, onde trabalhou com cinema, literatura, artes e, claro, jornalismo. “Sair da fôrma da conformidade é desconfortável”, disparou a ilustríssima Ilma, referindo-se à coragem de deixar a medicina para dedicar-se à cena cultural.
“Médica, Ilma é poeta. Doutora como Guevara, como Guimarães Rosa, como Tchekhov. Legista, não se limitou a dissecar carcaças inertes. Deitou olhos sobre a anatomia distrófica do conservadorismo de nossa terra para alcançar o mundo todo. Dissecou o cacique Serigy, mas também Jean Genet e Rimbaud. Psiquiatra, negou-se à lobotomização e a reforçar o superego chatíssimo que interditou a emancipação e condenou à indigência cultural tantas mulheres de seu tempo”, completou Ana Lúcia.
Em seu discurso, Ilma rememorou histórias suas e do jornalismo sergipano. Histórias de repressão e de libertação, da ditadura militar e do rock’n’roll. Em uma dessas histórias, nossa homenageada contou que seu modo de desafiar a sociedade e de subverter o conservadorismo dominante, lhe rendeu a demissão do jornal Gazeta de Sergipe. Em plena ditadura militar, Ilma entrevistou seu amigo, o poeta Mário Jorge, para o periódico. Com o título “Poesia no paredão”, a entrevista foi considerada “inadequada” para a edição e a jornalista, “inadequada” para o jornal.
“O ativismo politico e cultural é uma coisa que entranhou-se e não poderia deixar de entranhar-se na minha geração, que é a geração do rock’n’roll”, resumiu Fontes.
E definiu-se no poema “Cogito”, de Torquato Neto: “eu sou como eu sou / pronome pessoal intransferível / do homem que iniciei / na medida do impossível / eu sou como eu sou / agora / sem grandes segredos dantes / sem novos secretos dentes / nesta hora / eu sou como eu sou / presente / desferrolhado indecente /feito um pedaço de mim”.
“Aos 50 anos de jornalismo, Ilma Fontes ainda tem tudo a dizer e a mostrar”, finalizou Ana Lúcia.
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Por: Assessoria de Comunicação
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