O senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) afirmou nesta quinta-feira, 27, à CPI da Covid que estratégia deliberada do presidente Jair Bolsonaro, e do Ministério da Saúde, durante a pandemia, no sentido contrário ao de impulsionar a vacinação em massa e cuidados básicos, parece ser diretamente responsável pela curva ascendente de contaminação e mortos no país. Se a primeira proposta do Instituto Butantan para o governo federal, para a compra da Coronavac, tivesse sido aceita, assegurando 60 milhões de doses entregues em dezembro de 2020, além de 4,5 milhões de doses da Pfizer que poderiam ter chegado no primeiro trimestre deste ano, “hoje poderíamos ter o dobro de brasileiros vacinados” e milhares salvos – segundo estudos, seriam hoje menos de 400 mil mortos, quando a contagem macabra ultrapassa 450 mil mortos. “Esse é o tamanho do desastre”, reforçou o senador. “O desenvolvimento da Coronavac foi sistematicamente sabotado pelo governo federal. As ofertas chegaram, foram recusadas. Chegaram os pedidos de apoio financeiro, e eles não foram atendidos – ou foram só para outros fornecedores.”
Depodo à CPI, o presidente do instituto, Dimas Covas, confirmou que a vacinação em massa teria reduzido fortemente a curva de contaminação no país. “São centenas de milhares de brasileiros que não precisariam ter sido internados, milhões de brasileiros que não seriam contaminados”, apontou o senador. Dimas Covas confirmou que as negociações com o governo federal para compra da vacina Coronavac, produzida numa parceria do laboratório chinês Sinovac, que já tramitavam com atraso, pararam em 20 de outubro do ano passado depois de declaração do presidente Jair Bolsonaro, em entrevista e pelas redes sociais, de que não compraria a vacina. A fala de Dimas Covas contraria a do ex-ministro Eduardo Pazuello, que afirmou à CPI que a declaração de Bolsonaro não havia interferido. Não avançaram, ainda, as negociações com o Ministério da Saúde sobre outra vacina, a Butanvac, desenvolvida pelo Instituto Butantan em parceria com um consórcio internacional e candidata nacional contra a Covid-19. “Nenhum centavo” do governo federal foi aplicado no desenvolvimento da Coronavac ou na Butanvac.
Fake news – O senador Alessandro Vieira frisou, ainda, que a campanha de desinformação, e até de impulsionamento de fake news, por parte do governo federal, “atrapalhou o ritmo de vacinação e a defesa da saúde”. Além do próprio presidente, diretamente, e seus principais auxiliares, Vieira apontou para a responsabilidade da própria CPI do Senado. “Estamos acompanhando aqui, numa CPI do Senado, absurdos que não podemos deixar passar em branco”, disse o senador, citando declarações fora do contexto, números sem parâmetros e frases “que evocam preconceitos tradicionais”. Dimas Covas concordou que isso gera impacto na sociedade, inclusive redução na busca de outras vacinas, como a gripe comum. “Nós vemos as pessoas reproduzindo discursos dentro da CPI, onde se sentem no direito de mentir, imagine o que vai acontecer no bar da esquina ou no grupo de whastapp da família.” Vieira defendeu uma checagem simultânea de dados proferidos na CPI ou a presença de especialistas para enfrentar a desinformação deliberada.
Por: Laisa/Ascom