Diante de Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil, participando da 55ª Assembleia Geral da CNBB, estou acompanhando com atenção o desenrolar dos acontecimentos em Brasília e em todo o país.
O momento político, social e econômico que o Brasil atravessa é muito delicado e carecedor do discernimento de todos nós. A corrupção deve ser combatida com o rigor que as leis estabelecem, seja ela praticada por quem quer que seja. Corruptos e corruptores vivem nas trevas, vivem sob a sombra do mal. A impunidade e a injustiça não devem mais ser toleradas. A violência deve ser contida. E a exploração do homem pelo homem não tem amparo no Evangelho de Jesus Cristo.
As mudanças nas leis trabalhistas e na previdência social, como estão sendo anunciadas e, no caso das primeiras, já sendo votadas no Congresso Nacional, ferem direitos consagrados na Constituição de 1988, que está sendo desconstruída de forma absurda, para atender aos interesses do grande capital, nacional e internacional, que suga o suor e o sangue das classes trabalhadoras, sob a alegação de que é preciso fazer ajustes fiscais. Que se façam os ajustes necessários, mas sem decepar direitos tão duramente conquistados e mantidos até agora.
Como membros do Corpo Místico de Cristo (1 Cor 12,12), fazendo uso da Palavra de Deus e da Doutrina Social da Igreja, tão diligentemente constituída ao longo de mais de um século por inúmeros e abençoados Pontífices, nós devemos repudiar toda ação que prejudique o povo brasileiro.
Seguidores que nós somos do Verbo Encarnado, não temos o direito de nos calar, quando ameaças diversas pairam sobre a sociedade. Neste momento, calar equivale a mentir. E a verdade deve ser proclamada. Jesus veio para que todos tenham vida em plenitude (Jo 10,10). A plenitude da vida dos brasileiros não deve ser molestada por nenhum governo, por nenhum grupo político que esteja ou possa estar no poder.
Conclamamos a todos os irmãos e irmãs, para que, sob a inspiração do Santo Espírito, não se curvem ao querer de quem não tem coragem de ouvir o povo. Devemos perguntar aos nossos representantes no Congresso Nacional como eles estão fazendo uso dos votos que receberam. A favor do povo ou contra o povo?
Neste momento, cada irmão e cada irmã devem compreender o que fazer, para mostrar a sua indignação e seu descontentamento contra tudo que agride a vida, a liberdade, a segurança jurídica e a felicidade do povo brasileiro.
Dizer NÃO a tudo que contraria a plenitude da vida é um dever cristão. Exercitemos, pois, o nosso dever, para que os nossos direitos não sejam dilapidados. Que o povo não se deixe abater. Que o Brasil vença este momento tão difícil.
Dirigindo a nossa prece a Nossa Senhora Aparecida, Rainha e Padroeira do Brasil, nas comemorações dos 300 anos do encontro de sua imagem, pedimos a ela, nossa Mãe querida, que nos cubra de bênçãos, e, por intermédio de seu Filho Jesus Cristo, interceda ao Pai por nós, para que possamos vencer todas as dificuldades que atravessamos e enfrentemos este momento com muita firmeza, serenidade e esperança.
Aparecida (SP), 27 de abril de 2017.
Dom João José Costa – Arcebispo Metropolitano de Aracaju
Presidente da Cáritas Brasileira