No mercado financeiro carioca, o investidor Antônio José Carneiro é uma lenda viva. Conhecido como “Bode”, ele controla o banco Multiplic, foi um dos maiores acionistas do grupo Ipiranga e é hoje um dos principais investidores do mercado imobiliário do Rio de Janeiro.
Acostumado a ganhar mais do que perder, “Bode” acredita ter sido passado para trás. E acusa ninguém menos que a Caixa Econômica Federal.
Numa carta de 19 de outubro deste ano, dirigida ao vice-presidente Fábio Ferreira Cleto e obtida pela reportagem do Brasil 247, o investidor relata seu drama. Diz ele que, em 2009, adquiriu 4.456 contratos de crédito imobiliário, lastreados em títulos do FCVS, o Fundo de Compensação sobre Variações Salariais, de responsabilidade da Caixa.
Os mesmos foram adquiridos de uma empresa chamada Tetto, que os repassou ao dono do Muliplic, livres de ônus, com base num parecer da própria Caixa, auditado por ninguém menos que a empresa de auditoria KPMG.
No entanto, em outubro deste ano, ele descobriu que os títulos estavam onerados e não poderiam ter sido cedidos a terceiros. Na carta, “Bode” conclui sua argumentação ameaçando tomar “todas as medidas legais e judiciais cabíveis para preservar seus direitos, e, se for o caso, buscar o ressarcimento dos prejuízos financeiros que a conduta da CEF lhes causou ou vier a causar”.
Briga de cachorro grande, como se diz no mercado financeiro. Mas outro documento, também obtido pelo Brasil 247, revela que o problema pode ser ainda mais grave. Num email interno, o vice-presidente Fábio Cleto relata ter repassado o problema para ninguém menos que o presidente do banco, Jorge Hereda.
E ele afirma que, além de Antônio José Carneiro, outro investidor também teria sido lesado. Ninguém menos que o fundo de pensão Postalis, que é responsável pelas aposentadorias de dezenas de milhares dos funcionários dos Correios. Na mensagem enviada no dia 24 de outubro, às 20h08, para o executivo Jailton Zenon da Silveira, com cópia para o presidente Jorge Hereda, Fábio Cleto afirma: “Já é, portanto, o segundo agente financeiro que alega prejuízos financeiros por informações prestadas pela Caixa (…) Já encaminhei uma carta ao presidente Hereda, aqui também copiado (Críticas a auditoria.doc), elencando algumas críticas à profundidade do trabalho de auditoria…” Esse documento interno, que faz crítica ao processo de auditoria da KPMG nos contratos da Caixa, também levanta a extensão do problema: nada menos que R$ 1 bilhão, em prejuízos que podem ter sido causados a investidores privados e a fundos de pensão estatais, como o Postalis. Procurada pela reportagem do Brasil 247, a Caixa Econômica Federal preferiu não se pronunciar sobre o caso.
Fonte: http://brasil247.com.br/