O grupo de teatro sergipano Boca de Cena embarcará no próximo domingo, 13, para um intercâmbio artístico-cultural na Bolívia com o grupo de teatro Los Andes, sediado na cidade de Yotala, a 15 quilômetros de Sucre, capital do departamento de Chuquisaca, no Centro-Sul boliviano. O projeto BRABO, termo que reúne as iniciais dos países participantes, possibilitará uma coprodução entre os dois grupos teatrais para a uma investigação cênica acerca do tema “Desafiando a maldição do Cacique Serigy”.
O projeto é fruto de uma pesquisa histórica que investiga as origens de Sergipe, revisitando as lutas e os massacres que marcaram o território como forma de refletir sobre a realidade atual do povo sergipano. Nesse percurso, o Boca de Cena se une ao grupo boliviano, para um intercâmbio de conhecimentos e experiências que fortalece a pesquisa cênica e o diálogo intercultural latino-americano.
O ponto de partida para a criação do novo espetáculo é o questionamento do chamado “mito fundacional” do Cacique Serigy, segundo o qual, após décadas de lutas contra os invasores portugueses, o guerreiro tupinambá se rendeu para evitar mais mortes, e, em seu gesto final, lançou uma maldição: a de que nada vingaria em terras sergipanas.
“A ideia central de BRABO é contrariar este dito, transcender e povoar com riquezas culturais ancestrais a dramaturgia do espetáculo, partindo da valorização da própria história do Cacique Serigy, dos nossos povos indígenas, dos nossos povos pretos, e dos brancos que aqui viveram e lutaram. No espetáculo, o sangue derramado ganhará vida para recontar, recriar e revolucionar o nosso presente e futuro”, explica a dramaturga da obra, Euler Lopes.
A proposta do grupo sergipano, em parceria com o Teatro Los Andes, foi contemplada na Convocatória Ibercena – Fundo de Apoio para as Artes Cênicas Ibero-americanas 2024-2025, gerido no Brasil pela Fundação Nacional de Artes – FUNARTE, e que tem como objetivo estimular a integração das artes cênicas na região ibero-americana. A convocatória recebeu 675 propostas de 17 países. Entre as 91 brasileiras, 15 foram selecionadas, entre elas a do Boca de Cena.
Cruzamento cultural
Na bagagem, o grupo sergipano levará a pesquisa inicial já realizada sobre o tema, além de referências, pistas, desejos e possibilidades de caminhos criativos. Durante a residência artística na cidade de Yotala, os participantes do projeto realizarão, também, uma imersão na cultura local.
Em comum, as duas companhias têm como marcas a busca pela construção de trabalhos coletivos, e a escolha por desenvolver atividades fora dos grandes centros econômicos, seja fortalecendo a produção periférica, no caso do Boca de Cena, que tem sede no bairro Bugio, em Aracaju; e a interiorização das artes, no caso do grupo boliviano.
O atuante da cena e diretor do Boca de Cena, Rogério Alves, destaca que o projeto BRABO é um trabalho que busca uma reconexão profunda com a natureza enquanto ser vivo, consciente, e sagrado; e não apenas como um recurso a ser explorado. Nele, a Terra é sujeito e protagonista da história, e não “pano de fundo” onde tudo acontece.
“A inspiração na Pachamama, essa divindade andina que representa a Mãe Terra, convoca-nos a escutar o que antes era silenciado: as árvores, os rios, os pássaros, o sangue que brota do chão. Num mundo em colapso, é urgente repensar nossos vínculos com a terra, a ancestralidade e o cuidado. O espetáculo nasce desse desejo: o de provocar, com poesia e força, uma reflexão sobre o que realmente sustenta a vida”, salienta Rogério Alves.
Apresentações na Bolívia e no Brasil
O intercâmbio cultural culminará em uma demonstração artística dos processos realizados nas cidades de Sucre e Yotala. Já no Brasil a apresentação será realizada até o final do segundo semestre deste ano, em Aracaju, durante as comemorações pelos 20 anos de existência do Boca de Cena.
A dramaturgia da peça será de Euler Lopes, e no elenco estarão os também sergipanos: Ana Kelly Melo, Rogério Alves e Felipe Mascarello. A peça teatral terá a direção de Gonzalo Callejas, com assistência de Alice Guimarães; e contará com a participação de Bernardo Rosado na direção musical e coreografia. A produção geral será de Rogério Alves, com a assistência de produção de Chris Galdino e Alice Guimarães.
“Estamos muito felizes em representar Sergipe e o Brasil nesta convocatória do Ibercena. Realizar projetos como este fortalece, ainda mais, o Grupo e toda a cena teatral do nosso Estado. É uma responsabilidade enorme, mas também sabemos que significa o reconhecimento pelo trabalho e pela relevância que o Boca de Cena conquistou nas artes cênicas do nosso Estado nos últimos anos”, complementa Rogério Alves.
Reprodução: Portal Imprensa1
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