A história de exploração e de cárcere disfarçado de adoção vivida por uma jovem de 24 anos seria o provável futuro da menina de 7 anos sequestrada há pouco mais de uma semana em uma feira de artesanato em Contagem, na Região Metropolitana da capital mineira.
A criança retornou ao convívio da família depois que a suspeita se viu acuada com a divulgação de seu retrato falado. Mesma sorte não teve Natália, mantida por mais de duas décadas aprisionada por Neli Maria Neves, 53 anos, que se passava por sua mãe. Encontrada na casa para a qual a garota havia sido levada, a jovem deixou de ser suspeita de cumplicidade no sequestro para se tornar mais uma vítima de um enredo que surpreendeu vizinhos e a própria polícia.
As investigações para encontrar a dona de casa, suspeita do sequestro da menina de 7 anos, trouxeram à tona o caso da jovem. Durante operação policial na casa de Neli, na última terça-feira, agentes da Delegacia Especializada em Localização de Pessoas Desaparecidas encontraram a vítima de 24 anos. A acusada foi presa com seu companheiro, um cabo reformado da Polícia Militar com quem vive há 25 anos.
Contra ela também pesa uma condenação pelo assassinado do ex-marido, em 1984. Há indícios ainda de que Natália recebia diariamente remédios que a dopavam. A delegada Cristina Coeli Cicarelli disse que, nos casos da jovem e da garota, há semelhança no modo de agir da suspeita. “Ela procurou os cartórios para fazer o registro tardio das crianças por meio de informações falsas, confirmadas por testemunhas.
As duas vítimas foram registradas como filhas biológicas do casal.” No caso mais recente, dois dias depois de sequestrada, a menina ganhou registro em São Joaquim de Bicas, na Grande BH.
Ameaças
Segundo a delegada, no caso de Natália, há a versão de que houve entrega consensual da criança pela mãe biológica, hoje falecida. Depois, arrependida, a mulher não teria conseguido ter a filha de volta diante das ameaças de Neli. Ainda de acordo com Cristina Coeli, em outra versão, testemunhas afirmam que Neli tomou a criança da mãe. O fato é que a família biológica da jovem e os parentes da acusada, que tinham proximidade, nunca denunciaram nada à polícia.
A delegada não quis dar detalhes sobre a que tipo de exploração a jovem era submetida, mas investigadores contaram que o nome de Natália chegou a ser usado para aquisição de bens pela acusada. A delegada admite que a possibilidade de exploração sexual será investigada, embora ainda não haja indícios desse crime.
A polícia já sabe que a jovem frequentou a escola até a 6ª série e depois passou a ter uma vida reclusa. De acordo com a delegada, Neli Neves justificou que a jovem é portadora de problemas psíquicos. “O que percebemos nas conversas com os parentes de Neli é que ela é uma pessoa temida, que mantinha domínio sobre todos por meio de ameaças.”
Fonte: » Landercy Hemerson / Jefferson da Fonseca Coutinho (http://www.correiobraziliense.com.br/)