Uma investigação minuciosa da Delegacia Especial de Delitos de Trânsito (DEDT) da Polícia Civil provocou uma grande reviravolta no caso do acidente de trânsito que matou o procurador do Estado aposentado, Antônio Melo de Araújo, nas primeiras horas da manhã do dia 6 de abril deste ano, na rodovia SE-100, na altura do trecho da avenida Melício Machado, zona sul de Aracaju.
Segundo a delegada Daniela Lima, o conjunto de provas testemunhais e periciais colhidas até o momento levou a polícia a acreditar que o caso se trata de um homicídio qualificado que foi planejado para aparentar ser um simples homicídio culposo de trânsito.
Para a polícia, a mentora do homicídio é Anoilza Santos Gama Melo de Araújo, esposa do procurador aposentado. A motivação do assassinado ainda é desconhecida, mas as provas colhidas pela polícia apontam para três hipóteses prováveis: separação a pedido da vítima; crise depressiva de Antônio agravada por fatores conjugais e indícios de que a viúva mantinha um relacionamento extraconjugal muito sólido e de conhecimento de várias pessoas.
O trabalho para chegar a esposa da vítima começou assim que o veículo Polo, de cor prata, foi localizado na Estrada dos Três Porquinhos, perpendicular a SE-100. Dentro do veículo os policiais encontraram várias garrafas de bebidas alcoólicas e duas contas de energia elétrica em nome de Manoel Nogueira Neto, 64 anos. Após consultas, a polícia descobriu que o Polo era um carro dublê, ou seja, o carro original foi roubado em Alagoas, mas utilizava uma placa regular de um veículo que transita normalmente no Estado do Rio de Janeiro.
Em seu depoimento, Manoel Nogueira reconhece que tinha a posse do carro, mas disse que nunca soube que o veículo era roubado. No decorrer das investigações, a polícia descobriu que Manoel é pai de Gabriel Ernesto Nogueira de Oliveira, 26 anos, que por sua vez tinha um vínculo com Anoilza.
“Gabriel é esposo de Gabriela Figueiredo Guedes, 27 anos, colega de trabalho de Anoilza. Verificamos que essas pessoas têm uma relação de proximidade, se encontram e se comunicam constantemente. O que era apenas coincidência tornou-se o fio condutor do nosso trabalho”, disse.
Nesta segunda-feira, 11, a delegada Daniela Lima ouve todos os suspeitos e ainda não pode afirmar como os demais acusados foram cooptados pela viúva. “Esses detalhes vão surgir agora nos depoimentos dos suspeitos, o vínculo entre eles já está bem estabelecido nas investigações, mas ainda não surgiu os detalhes. Queremos saber se houve uma promessa, um pagamento ou algum outro benefício para execução do homicídio”, constatou.
No tocante ao homicídio, a delegada disse que não há imagem do atropelamento, “mas existem imagens do veículo retornando do local do acidente já com o para-brisa quebrado. Dentro do carro havia uma grande quantidade de bebidas alcoólicas para passar a impressão de que se tratou de um acidente de trânsito, causado por um jovem no retorno de uma festa, por exemplo”.
Os dois homens que estavam no carro na hora do atropelamento não tiveram as identidades reveladas. “Não vamos divulgar os nomes agora porque as investigações estão em curso, mas já existem diligências no sentido de localizá-los. Pedimos a população que denuncie esses indivíduos por meio do 181. São dois jovens, sendo que um deles ficou com o braço machucado logo depois do acidente e eles fugiram do local em um táxi e desceram em um posto de gasolina em frente ao terminal rodoviário José Rolemberg Leite, tomando destino ignorado”.
Carta com teor suicida
Durante os últimos meses de investigações, a família do procurador entregou à polícia uma carta que teria sido escrita de próprio punho pelo procurador Antônio Melo. “Esta carta foi apresentada no curso das investigações por familiares da vítima, que disseram que tiveram acesso ao documento por meio da viúva, que por sua vez, informa ter achado o manuscrito em meios aos pertences do falecido. A carta tem registros biográficos e ao final há uma menção de despedida da vida e do mundo, fazendo crer que Antônio anunciava um suicídio. A carta foi periciada e o perito disse que não se trata de um manuscrito feito por Antônio Melo, mas por Felipe Dias Gomes”.
Diante dos fatos, a Justiça atendeu solicitação da delegada e autorizou a prisão temporária de 30 dias para Anoilza Santos, Gabriel Ernesto, Manoel Nogueira, Gabriela Figueiredo e Felipe Dias.