O deputado Marco Maia (PT-RS), relator da CPI mista que investiga suspeitas de corrupção relacionadas à Petrobras, afirmou à reportagem neste domingo, 10, que pedirá a convocação de Meire Bonfim da Silva Poza, ex-contadora do doleiro Alberto Youssef. O doleiro está preso sob acusação de integrar um esquema internacional de lavagem de dinheiro abastecido, inclusive, com recursos da estatal.
Segundo Marco Maia, Meire precisa ser convocada porque já aceitou colaborar com as investigações da Polícia Federal a respeito das relações do ex-chefe com políticos e empreiteiras. Agora, disse o deputado, ela é “uma peça importante no processo de investigação da própria CPI”.
Neste sábado, 09, o PPS, partido de oposição ao governo, já havia comunicado que pediria a convocação de Meire. Com o aval do relator, que define o cronograma da investigação e é um dos aliados do governo dentro da CPI, há mais chances de o requerimento ser votado pela comissão. Diversos pedidos sequer são apreciados pela CPI por falta de acordo entre seus integrantes.
Nesse fim de semana, sem sucesso, a reportagem tentou questionar sobre o assunto o senador José Pimentel (PT-CE), relator da CPI do Senado que também investiga as mesmas suspeitas de corrupção ligadas à Petrobras. O senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), presidente da CPI mista e da CPI dos senadores, também não respondeu.
A ex-contadora de Youssef prestou dois depoimentos à PF em julho, um no dia 23 e outro no dia 25.
Ela concedeu entrevista à revista “Veja”, na edição deste fim de semana, em que cita nomes dos políticos e dos partidos mais beneficiados pelo esquema de lavagem de dinheiro do doleiro.
PT, PMDB e PP foram as siglas mencionadas por Meire na entrevista. Entre os políticos, foram citados o senador Fernando Collor (PTB-AL) e os deputados André Vargas (sem partido-PR), Luiz Argôlo (SDD-BA), Mário Negromonte (PP-BA) e Cândido Vaccarezza (PT-SP).
À exceção de Collor, que desligou o telefone sem responder aos questionamentos da reportagem, todos negaram as acusações. A ex-contadora disse ainda que as empreiteiras OAS, Mendes Júnior e Camargo Corrêa participavam de operações ilegais de Youssef.
Sobre a Petrobras, Meire afirmou que “para entrar” na empresa era preciso pagar um “pedágio” a Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da estatal que também está preso. Ele é acusado pelas autoridades de ser sócio de Youssef.
Marco Maia afirmou que os técnicos da CPI estão analisando documentos da Operação Lava Jato, da Polícia Federal, para formular perguntas a Alberto Youssef, que já teve sua convocação aprovada, mas ainda sem data para o depoimento. O mesmo material deve subsidiar o interrogatório de Meire. “Ela, na verdade, não trouxe novidade. Mas eu mesmo devo apresentar um requerimento de convocação dela para se somar ao depoimento do Alberto Youssef”, disse o deputado.
PMDB e PP
Os dois deputados do PMDB titulares na CPI mista, Sandro Mabel (GO) e Lúcio Vieira Lima (BA) afirmaram que apoiam a convocação de Meire. “Se não tiver nenhum requerimento, eu vou apresentar”, afirmou Lima. Os dois acham necessário apurar as afirmações da ex-contadora, inclusive as acusações que fez contra o PMDB. “Ela vai ter que falar. Ela não pode falar genérico, PMDB, PT. Quem do PMDB? Quem do PT?”, disse Lúcio.
Apesar de Mabel apoiar a convocação de Meire, ele teme que a nova personagem dos escândalos tire a CPI de seu foco, que é apurar especificamente as suspeitas relacionadas à Petrobras. “Acho que tira um pouco o foco da CPI. Porque aparentemente não era só com negócio de Petrobras que o Youssef mexeu. Mexeu em outras coisas também, uma lavanderia completa”, disse.
Ontem, o presidente nacional do PP, senador Ciro Nogueira (PI), disse ser favorável à apuração das declarações de Meire na CPI.
Conselho de ética
As declarações de Meire repercutiram também no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara. O deputado Marcos Rogério (PDT-RO), relator do processo aberto contra o colega Luiz Argôlo no conselho, disse que também pode convidar Meire a depor.
“Ela pode esclarecer o que significa ser um dos mais assíduos no escritório de Youssef e qual o tipo de negócio que eles tinham”, disse Marcos Rogério. “Se era uma relação empresarial ou de amizade”. Argôlo responde a um processo de quebra de decoro parlamentar por envolvimento com o doleiro. (Colaborou Ricardo Della Coletta)
Fonte: Estadão Conteúdo