A política sergipana chegou a um dos mais baixos níveis de sua história. Sob o comando incontrastável dos irmãos Amorim (Edvan e Eduardo), Deputados estaduais deixando de ouvir e acompanhar a voz da sensatez – expressa no sentimento de cada sergipano que deseja o bem de nossa terra-, derrubaram o empréstimo de R$ 727 milhões que o governo da presidenta Dilma colocou à disposição do Estado.
Manobra executada com inusitada frieza, cujos fundamentos de sua rejeição jamais serão compreendidos nem apoiados por todos aqueles eleitores conscientes de que o verdadeiro papel de nossas lideranças políticas, mesmo na divergência, é o de trabalhar em sintonia para trazer mais recursos e mais desenvolvimento.
É inadmissível que um Estado nordestino como o nosso, ainda tão necessitado de obras estruturantes para avançar em suas conquistas na busca da plenitude do desenvolvimento (rodovias, escolas técnicas, Hospital do câncer, abastecimento d’agua, habitação, mobilidade urbana, etc) – , seja capaz de adotar o retrocesso e a política inconsequente do vale-tudo como regra, somente para atender aos caprichos e ambições desmedidas de um grupo político que se arvora de único intérprete da vontade de um povo livre.
A rejeição a esse empréstimo traduz antes de tudo uma postura descomprometida com o futuro de Sergipe de um bloco político que pretende assumir o poder ganhando as eleições de 2014, custe o que custar, até em prejuízo da melhoria das condições de vida de nossa gente.
De nada adiantaram os apelos para que cada um cumprisse com o seu dever, independentemente de sua condição partidária. Prevaleceram, no entanto, o egoísmo, a ambição e o mandonismo contra o adversário do momento (governador Marcelo Déda) para que ele fosse barrado, e impedido de executar o seu salutar plano de obras, que seria sustentado com o apoio do governo federal.
A rejeição ao projeto do empréstimo acarretará efeitos extremamente danosos à nossa frágil economia, contribuindo para o seu desaquecimento.
Essa é a fase mais aguda da crise internacional que afeta agora o Brasil. Qualquer decisão contra a luta para vencer a crise enfraquece o seu combate e retarda o seu enfrentamento. Contribui para a falta de investimentos, retração da atividade econômica, aumento do desemprego e acentuada queda da arrecadação dos Estados e Municípios.
Agravar a crise, proibindo o ingresso de recursos novos com juros subsidiados pela União, para serem pagos em 20 anos, é o cúmulo da insensatez, é um desserviço que será sempre lembrado como um remédio que fora aplicado sem uma leitura responsável da bula que acompanha o produto.
A decisão de negar o empréstimo do BNDES não foi para resolver a crise, foi para agravá-la, desacreditar o governo estadual e tirar proveito político de seu possível desgaste, por não realizar as obras projetadas. O projeto não ? o Proinveste, a prioridade é 2014, na escalada em direção ao Poder.
Os Municípios sergipanos -que por sinal atravessam sérias dificuldades para investir em obras de infra estrutura- seriam os mais beneficiados com o empréstimo, pois, para eles, diversas ações seriam direcionadas.
Toda eleição é importante. Afinal, através delas, escolhemos quem deverá governar ou nos representar no Parlamento. Resta saber qual o apelo mais forte: devemos aceitar, sem esboçar qualquer crítica, o veto a propostas voltadas para a população, em razão de um projeto de poder – imaginado apenas para a próxima eleição, e caracterizado por ser de um indivíduo ou de um grupo? Ou, devemos aprovar projetos coletivos propondo melhorias para o nosso Estado da iniciativa de um governo eleito, mesmo que em dado momento seja nosso adversário?
Claro que a segunda opção é aquela que o povo espera de cada um de nós. Mas é preciso que se diga que nem sempre o raciocínio dos políticos coincide com o raciocínio do povo.
Quando há essa discrepância, que é subjacente, e sobrevive nas sombras – e que o político quase sempre subestima-, alguma surpresa poderá surgir nas urnas. Esse sentimento de repulsa, que os políticos nem sempre incluem em seus cálculos, é o recado que é dado ocasionalmente aos detentores do poder, por suas decisões equivocadas.
A insensatez do radicalismo político conduz ao isolamento porque o discurso de quem age assim se torna vazio, sem conteúdo programático, sem uma liga com os anseios populares.
O Senador Amorim elegeu-se deputado, e depois senador, sempre o mais votado. A nossa Constituição diz que o Senador representa o Estado para o qual é eleito.
É lamentável que sendo legítimo representante do Estado de Sergipe, num momento delicado por que estamos passando, com a crise atingindo e preocupando a todos os segmentos sociais e econômicos do Brasil e de Sergipe, o senador Eduardo Amorim (PSC) tenha sido um dos principais artífices da articulação política para a rejeição do Proinveste.
Como explicar que em todo o Brasil os Estados tiveram seus empréstimos aprovados, menos em Sergipe?
Não temos o direito de esconder a verdade: a responsabilidade não é apenas dos deputados estaduais que votaram contra. É também daquelas lideranças, que tendo mandato ou não, possam influenciar decisões no âmbito do Legislativo.
Antonio Carlos Valadares
Senador da República