Na manhã desta quinta-feira, dia 20, o senhor Mário Jorge (sobrinho de Dom João José Costa, Arcebispo da Arquidiocese de Aracaju), se pronunciou em nome da família, para esclarecer a polêmica em torno da renúncia de seu tio do cargo de arcebispo metropolitano de Aracaju.
De acordo com o sobrinho de Dom João Costa, o seu tio precisa de ajuda e atenção especial de todos, pois ele contraiu uma doença neurológica progressiva, e que em muitos casos, chega até esquecer de coisas que fez ou iria fazer e por recomendações médicas, se faz necessário o seu afastamento do cargo que ocupa na arquidiocese da capital sergipana.
E sobre a sua carta de renúncia, aconteceu em comum acordo com a Arquidiocese de Aracaju, por isso se faz necessário que todos entendam o seu estado de saúde e ajudem.
Compartilhamos o inteiro teor da carta do arcebispo dom João José Costa, dirigida à igreja particular de aracaju, pela qual ele explicita as razões do seu pedido de renúncia ao ofício de arcebispo metropolitano de Aracaju. O pedido foi aceito pelo Papa Francisco, nesta quarta-feira, 19 de julho.
À igreja particular de Aracaju
Dirijo-me aos membros do Clero Arquidiocesano, aos diáconos e seminaristas, aos religiosos e religiosas, aos cristãos leigos e leigas envolvidos nas pastorais, serviços e movimentos, aos fiéis das paróquias e comunidades da nossa amada Arquidiocese de Aracaju e a todos aqueles que caminharam comigo, colaborando diretamente na missão pastoral que me foi confiada.
Desde 2014, quando o Santo Padre me nomeou Arcebispo Coadjutor, confirmando-me depois, em 2017, como Arcebispo Metropolitano, obediente ao mandado recebido da Santa Igreja, busquei servir com amor e dedicação a esta porção do povo de Deus que está na Arquidiocese de Aracaju, não obstante a minha pequenez e as minhas fragilidades. Tenho consciência do meu esforço quotidiano em cumprir o meu dever de pastor durante todo esse tempo, marcado por desafios, exigências que, às vezes, pareciam superar as minhas capacidades de habilidades. Sempre senti e confessei a presença do Senhor ao meu lado em cada passo do meu caminho, ao experimentar a força de sua graça em minha vida, através de tantos dons e estímulos concedidos à minha fraqueza, para que eu pudesse servir com generosidade ao seu Povo Santo. Sua misericórdia não me abandonou em nenhuma circunstância da minha caminhada e a força do seu amor sempre me abraçou, sobretudo nos momentos de maior fragilidade. Por isto, nesta ocasião, com o coração agradecido, elevo a Deus a mais sincera demonstração de reconhecimento, ao sentir que não corri em vão.
Reconheço o bem que procuramos fazer, juntamente com tantos colaboradores, envolvidos nos vários âmbitos da vida e da missão de nossa igreja particular, homens e mulheres que não hesitam em oferecer os seus dons e talentos, muitas vezes sacrificando-se, tendo como único fim o crescimento da comunidade eclesial e a glória de Deus. Dentre os cooperadores, dirijo um pensamento agradecido aos sacerdotes que, pela graça do Sacramento da Ordem, estiveram mais intimamente unidos à pessoa do Bispo, como servidores, compartilhando a missão comum de pastorear, ensinar e santificar os fiéis. Que Deus os abençoe e os santifique, concedendo a cada um o prêmio dos servidores fiéis.
Os vários encontros com os fiéis, nas celebrações, nos ambientes formais e informais, são também motivo da minha gratidão ao Senhor, e sobretudo quando reunimos as forças vivas de nossa igreja particular para pensar e construir caminhos e diretrizes para a ação evangelizadora, desenhando percursos para a nossa missão comum. Agradeço a Deus pelos autênticos momentos de proximidade, vividos particularmente juntos aos mais vulneráveis, os sofredores e pobres, a quem busquei oferecer o unguento da consolação. Eles, como bússola, indicaram o horizonte seguro do meu ministério e da realização da minha vocação.
Neste momento de minha vida, consciente das minhas limitações e vulnerabilidades, diante da fadiga que me impõe o ministério, sem fugir às minhas responsabilidades, em atitude de escuta e acatamento obediente da vontade do Senhor e da Igreja, coloquei nas mãos do Santo Padre a minha missão como bispo e o caminho pastoral de nossa querida Arquidiocese. Compreendo que esta decisão, amadurecida não sem sofrimento, seja para o meu bem e para o proveito comum de nossa igreja particular, neste momento singular de sua história.
Peço a compreensão de todos, ao mesmo tempo em que me penitencio por qualquer incômodo ou sofrimento que possa ter causado a alguém, por conta das minhas fraquezas. Conto com a caridade e a oração de todos, para que possa, em outra fronteira, continuar servindo, com amor à Igreja, a quem dediquei toda a vida, fiel à minha condição de discípulo, a mais nobre de todas as distinções de quem recebeu a indelével marca de Cristo Senhor. Que a Imaculada Mãe de Deus, Senhora do Carmelo e minha mãe, receba o meu presente e o meu futuro em suas mãos maternais. Que São José, patrono da Igreja, conduza-me em meu caminhar, para que este momento, serenamente acolhido e vivido, seja ocasião para que eu possa testemunhar, mais uma vez, a fidelidade à minha vocação e o meu amor obediente a Deus e à Igreja.
Aracaju, 19 de julho de 2023
Em Cristo Jesus, Servo e Pastor.
Dom João José Costa, O.Carm.
Arcebispo Emérito de Aracaju
Biografia
Dom João José Costa é natural do município de Lagarto (SE), nascido no dia 24 de junho de 1958. Ingressou na Ordem do Carmo em 1985 e fez os primeiros votos em 1986. Em 1988 fez seus votos perpétuos. Concluiu os estudos filosóficos em Brasília no Seminário Nossa Senhora de Fátima e iniciou os estudos Teológicos em São Paulo no Instituto Teológico de Estudos Superiores (ITESP), concluindo-os em Recife, no Instituto Franciscano de Olinda (IFTO). É Licenciado em Filosofia pela Universidade Estadual do Ceará, em Sobral.
A ordenação presbiteral foi em 12 de dezembro de 1992. Em seu ministério presbiteral, foi administrador de três paróquias na arquidiocese da Paraíba; atuou como conselheiro Provincial dos Carmelitas entre 1993 e 1999, por dois mandatos; e provincial, de 1999 a 2006, também por dois períodos. Foi formador da Congregação, atuou na Pastoral Carcerária e na assistência espiritual da Fazenda da Esperança em Lagarto (SE).
Após o seu mandato como provincial (1999 a 2006), foi enviado a São Cristóvão (SE), onde assumiu as funções de Prior e ecônomo do Convento do Carmo.
Foi nomeado bispo da diocese de Iguatu (CE) no dia 7 de janeiro de 2009, pelo Papa Bento XVI. A ordenação episcopal foi no dia 19 de março daquele ano, em sua cidade natal, pelas mãos do então arcebispo metropolitano de Aracaju, dom José Palmeira Lessa. Escolheu como lema para seu episcopado “Servo por Amor”. A posse foi no dia 18 de abril de 2009.
No dia 5 de novembro de 2014, foi nomeado pelo Papa Francisco como arcebispo coadjutor da arquidiocese de Aracaju, sendo apresentado à comunidade arquidiocesana no dia 4 de janeiro de 2015, em missa campal em frente à Catedral Metropolitana de Aracaju. Com a renúncia de dom José Palmeira Lessa, assumiu a titularidade da arquidiocese de Aracaju, em 18 de janeiro de 2017.
Dom João José da Costa foi vice-presidente do Regional Nordeste 1 da CNBB, entre 2011 e 2014, e vice-presidente do Regional Nordeste 3 da CNBB, entre 2015 e 2019. Em 2015, também foi eleito presidente da Cáritas Brasileira, função que desempenhou de 2016 até o fim de 2019.